Nossa razão está condicionada por um
sistema escolar que institucionaliza nossa existência material. Somos
praticamente obrigados, pela cultura da escolarização, a escolher viver
nos moldes criados por outrem, sem refletir, sem sentir e sem ter tempo de
desenvolver nossa subjetividade. Os valores disseminados pela
institucionalização do saber, a escola e todo seu sistema educacional, nos
impõem um modo de vida baseado no consumismo, do ter em detrimento do ser.
Parece-nos até que essa imposição acontece de maneira sutil, mas não é bem
assim. Há um sistema que trabalha através das lacunas da
"consciência desatenta", ou seja, estamos desatentos com nós, nosso
corpo, nossa emoção, nossa personalidade, nossa individualidade/coletividade.
Nossa desatenção conceitualiza essa imposição declarada como sutil, mas não há
nada de sutil, a verdade está posta. Precisamos desenvolver nossa
subjetividade coletiva, a identidade do nosso tipo de sociedade
ou micro-sociedade em que nos instalamos está no caráter dos nossos
espaços públicos, na razão e emoção de sua existência. A arte do palhaço é
arte de enamorar-se da vida. Apaixonar-se pelas pessoas significa deixar
que o amor flua através de nós. Alinhar com um estado de consciência em
que pese a plena presença, a sensibilidade intuitiva e uma "rebeldia
não-revoltosa". Não é um ato de rebeldia mas de abandono. Como
abandonar este sistema estando dentro dele? Vivenciá-lo sem cumprir
sua cartilha?"Eles" querem que vivamos sem pensar? Antes querem
que vivamos sem sentir o que nos é autêntico sentir. Dizem que
devemos seguir os caminhos da razão contra os caminhos do coração. Aquele
que seguir o caminho de seu coração é considerado um louco!
Mas quem dita os caminhos da razão?
Reflexão: o que é esfera pública na
sociedade de hoje? Por exemplo: Televisão é uma concessão pública, utiliza o
ar, assim como o rádio, para transmitir. Na lei é necessário haver uma
concessão pública. Nossos (lá deles!) políticos concedem este poder de
comunicação a interesses privados que focam na sociedade de consumo e
corroboram constantemente com uma sabotagem educacional do
povo, utilizando o bloqueio do desenvolvimento da racionalidade pertinente
à escolarização.
Voltando à arte do palhaço: ocupar um espaço público,
sendo nós mesmos, assumindo o lugar do ridículo, nos relacionando com as
pessoas a partir da nossa espontaneidade e do nosso coração, em detrimento das
máscaras sócio-comportamentais ditadas pela razão avassaladora, é
hiperevolucionário. A realidade na verdadeira realidade não está posta!!! Está
sendo postada, constantemente. Adotar a ocupação de um espaço público
através da arte, deixando que ela faça a mediação das nossas relações sociais é um verdadeiro salto quântico. Rua das Artes Encontro de Circo
é este lugar, porém, mantenhamos o pensamento: se esses princípios não se perpetuarem no nosso cotidiano estará sendo
postada uma retração do salto quântico. Aí devemos nos voltar para
compreender o que significa o MAR de Palhaços.
O Rua das Artes é o
lugar que nós, artistas de rua, encontramos para fortalecer nossos afazeres
artísticos. É um MAR de água doce que encontramos no meio do deserto. Ele ajuda, estimula, recruta
novos guerreiros para arejar um movimento que vem acontecendo cotidianamente cujo princípio é : VIVER DA ARTE É POSSÍVEL!
Mas o que é viver da arte? É se alimentar dela, ganhar
dinheiro mesmo, mas é só isso? Não, porque não só de pão vivemos não é?
Precisamos nos alimentar de nós mesmos, nos retroalimentar com nossos
próprios sonhos, nosso autênticos sonhos, partindo de nossas pulsações
interiores. Precisamos mesmo mais do que ganhar dinheiro, ganhar a nós
mesmos! Tivemos nossa infância roubada. Nos afastaram de nós e nos disseram
que somos seres racionais porque criaram uma razão de existência
artificial para que estejamos constantemente alimentando a um sistema que
nos suga e nos faz acreditar que dependemos dele.
Convidamos a tod@s: se integrem, procurem saber, venham somar e
multiplicar o MAR de Palhaços. Somos um movimento em plena expansão, de formação, emancipação, libertação,
comunhão, amigão, comer pão, também feijão. Comer com fome é bem melhor!
Igor Caxambó
www.mardepalhacos.blogspot.com.br