Copyright © 2012 Gustavo Ivo
A cada terça-feira que chega passamos
a nos surpreender ainda mais com esse poder humano que acessamos nesta
empreitada que tem sido o Rua das Artes Encontro de Circo. Neste dia 17 de
julho de 2012 foi muito lindo de ver as atividades acontecendo espontaneamente
pela praça do Campo Grande, numa plena terça-feira, dando cor ao espaço e ao
tempo, através da união de nossas energias e intentos artísticos. No mínimo
houve palco aberto com belíssimas apresentações, recital de poesia, treino de
malabarismos diversos, oficina de bastão, oficina de perna-de –pau e a oficina
o “Olhar do palhaço”, a partir da qual pretendo refletir aqui sobre o Rua das
Artes Encontro de Circo e o MAR de Palhaços.
Há algum tempo a arte do palhaço vem
ganhando força em Salvador e os que têm mantido seu intento vivo e inflexível
para fortalecer cada vez mais a existência dessa arte, tem também experimentado
um prêmio esplêndido. Vivenciar a arte do palhaço é mudar nossa forma de ver o
mundo. O olhar do palhaço está repleto de vida, como o olhar de um guerreiro
que desafia os ditames da morte. Mais do que isso, nós palhaços aprendemos a
enxergar que precisamos desafiar nossos limites, nos entregando a eles,
denunciando eles para o mundo, aceitando-nos. O Olhar do palhaço é o olhar de
uma paixão, a paixão pela vida, pela existência, pela presença.
Conectar-se com as pessoas através
desse olhar muda toda a perspectiva e determinação da construção energética dos
sucessivos momentos. Estar presente, inteiro, integral, oferecendo sua alma
para que as pessoas possam beber de uma troca humana cheia de espirituosidade e
inocência é pura generosidade. Dar do que temos nunca poderá valer mais do que
dar do que somos. Estar receptivo e alerta, com atenção a nossos semelhantes é
uma ato de coragem inestimável e com certeza gera uma transmutação naqueles que
se arriscam a seguir essa vereda.
Mas conectar-se
cenicamente não é somente uma ato passageiro de prazer, é um exercício que
detona espasmos de consciência cotidiana e uma série de reflexões inevitáveis e
profundas sobre nossas relações sociais e como elas vêm se concebendo na
contemporaneidade. Como a mesquinhez vem dominando as relações econômicas
historicamente e como isso vem afetando o cotidiano das pessoas está
materializado na configuração de nossos espaços públicos. A configuração
envolve não somente sua estruturação física, mas a dinâmica de seu uso. O Rua
das Artes Encontro de Circo vem cumprindo bem, a meu ver, um papel
hiperevolucionário de transformar o uso do espaço. Aliás esse é o papel que há
muito o MAR de palhaços vem cumprindo há um tempo em Salvador. Transformar o
uso do espaço através da criação de uma Zona Autônoma Temporária, de tal
maneira que isso marque permanentemente a memória do espaço.
Tem sido muito bom participar do Rua
das Artes e, com meu olhar de palhaço poder assistir as pessoas que se
entretinham nesta jornada a jornada da construção de um espaço melhor, de uma
cidade melhor e de um mundo melhor...e por que não?!
Texto: Igor Caxambó.
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