sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

MOVIMENTO ABRE RODAS



Como palhaço de rua é para mim importantíssimo estar em espaço de discussões e entendimentos sobre nossas filosofias, enquanto palhaço e artistas de rua; sobre a função do palhaço de transformação da alma e da missão de estabelecer esta transformação nos locais que precisam de luz, de amor. No dia-a-dia que vivencio na rua, percebo a importância política existente sobre a função do Bufão, seu  lugar de total liberdade, como um feto que nasce em nós, antes mesmo do palhaço, ao qual nós palhaços, como seres em constante transgressão de nós mesmo podemos vir a retornar. Porém, como seres conscientes que somos, chegamos ao bufão com a consciência do palhaço, do artista ativista implicado socialmente nesta transformação das almas - primeiramente a sua própria.  
Acerca da função que nos cabe, a da transformação das almas, e da nossa missão, que é estabelecer esta transformação onde se necessita de luz e amor, acredito criar uma consciência sobre nosso lugar enquanto artistas de rua, fomentadores de uma nova cultura política-sócio-filosófica, que se volta para um movimento de emancipação dos moldes e padrões do sistema capitalista. Entendemos que não buscamos com o nosso fazer nos tornarmos "emergentes", reformadores desse sistema neo-neoliberal-imperialista, mas que através das nossas funções, devemos contornar o paradigma dominante entendendo que, assim como na mola propulsora do sistema há uma dedicação cotidiana à sua manutenção, nós, artistas, e principalmente, nós,  artistas de rua, devemos nos conscientizar de que precisamos nos dedicar cotidianamente à construção de estratégias de emancipação, de trabalho semanal, para assim, construir um sistema econômico-político-cultural paralelo.

Temos que educar cotidianamente a sociedade na qual estamos inseridos em relação à existência da arte de rua, e fazê-los entender, que assim como é digno de nós estarmos ali a trabalhar, é digno que as pessoas paguem pela graça recebida por eles através da nossa função. Temos que nos fortalecer enquanto irmãos, irmandade. SOMOS UM MOVIMENTO E ESTAMOS APRENDENDO COM ELE. Isto quer dizer, que como movimento, já se trata de algo que segue e cresce, e nesse crescimento aprendemos as estratégias para seguirmos e nos profissionalizarmos.
  
Como é um movimento inicial para todos nós, pensamos então de abrirmos nossas caixas de ferramenta para fortalecer nossas ações. Para um fazer artístico profissional e autosustentável é necessário o desenvolvimento de outras frentes de trabalho também. O movimento cresce, mas precisamos entender, como nós, mesmo que não seja como palhaços, podemos contribuir para isto, afim de fortalecermos- nos em sentido duplo: fortalecimento do movimento - o que implica em crescimento de espaço e frentes de trabalho para nós; e fortalecimento individual enquanto profissional, independentemente da área de atuação.

A nossa profissionalização e fortalecimento passa pela função social e educativa da nossa arte. Estamos concebendo que o palhaço é um grande Educador Social com um poder e um alcance incrível (vide Palhaços sem Fronteiras, Doutores da Alegria etc.). Considerando tantas possibilidades é que acredito na mobilização para fazer uma associação e efetivamente, organizar uma comunidade solidária, fortalecendo vínculos e não obedecermos às lógicas capitalistas que nos individualizam.

A arte é uma ferramenta muito poderosa para ser resumida em mais uma tratamento de auto-ajuda ou de trampolim para vaidades pessoais, ou grupais. Devemos considerar que estamos pisando numa realidade imposta e que nossa arte tem o poder de agir sobre essa realidade, transformando-a.

Em Salvador coordeno o “Movimento Abre Rodas”, que é um espaço de formação na arte do palhaço.

Enoque Sabiá

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